Quando interoperar e quando integrar? Existe diferença?

Há algum tempo tenho percebido alguma confusão entre  o que é integração e interoperabilidade.

São palavras que parecem sinônimas, mas não são!

Neste artigo vamos esclarecer as diferenças entre Interoperar e Integrar Sistemas de Informações em Saúde e quando interoperar ou integrar.

 


O que é Interoperabilidade?

Interoperabilidade é a capacidade dos sistemas (informatizados ou não) de se comunicarem de forma transparente (ou o mais próximo disso) com outros sistemas (semelhantes ou não).

Para um sistema ser considerado interoperável, é muito importante que ele trabalhe com padrões abertos ou ontologias. Desde de um sistema de portal, um sistema educacional, um sistema de comércio eletrônico ou mais especificamente nosso caso: no domínio da Saúde.

Atualmente caminhamos cada vez mais para a implementação de padrões nos sistemas e equipamentos médicos, porém poucas são as ações efetivas em tornar a Interoperabilidade de facto, para os sistemas de registros eletrônicos de saúde no Brasil.

 

Interoperabilidade não é integração de sistemas, muito menos integração de redes. Não referencia unicamente troca de dados entre sistemas e não contempla simplesmente a definição de tecnologia….


 Podemos melhorar nossa definição de interoperabilidade ao início deste artigo da seguinte forma:

 

Interoperabilidade pode ser entendida como a capacidade de dois ou mais sistemas ou atores heterogêneos, trabalharem em conjunto (interoperar) de modo a garantir que pessoas, organizações, sistemas computacionais e/ou equipamentos possam trocar informações (e não dados) de maneira eficaz, eficiente e coordenada e se utilizarem destas para melhor realização de suas atividades e processos.

 


Os níveis de Interoperabilidade podem ser Técnico, Semântico, Político/Humano, Intercomunitário, Legal, Internacional ou Organizacional.


A quantas anda a Interoperabilidade no Brasil?

 

A existência de uma infra-estrutura de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICS) que se preste como alicerce para a criação dos serviços de governo eletrônico é o pré-requisito para o fornecimento de melhores serviços à sociedade, e a custos mais baixos.

Um governo moderno e integrado exige sistemas igualmente modernos e integrados, interoperáveis, trabalhando de forma íntegra, segura e coerente em todo o setor público.

Políticas e especificações claramente definidas para interoperabilidade e gerenciamento das informações são fundamentais para propiciar a conexão do governo, tanto no âmbito interno como no contato com a sociedade e, em maior nível de abrangência, com o resto do mundo, como outros governos e empresas atuantes no mercado mundial.

A arquitetura ePING (Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico) é concebida como uma estrutura básica para a estratégia de governo eletrônico, aplicada aos órgãos e entidades integrantes do Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação (SISP). Permite racionalizar investimentos em TICS, por meio do compartilhamento, reuso e intercâmbio de recursos tecnológicos.

Os recursos de informação do governo constituem valiosos ativos econômicos ao garantir que a informação governamental possa ser rapidamente localizada e transmitida entre os diversos órgãos públicos, mantidas as obrigações de privacidade e segurança, o governo auxilia no aproveitamento máximo deste ativo, melhorando a prestação de serviços públicos no país.


As faces da Interoperabilidade

Na área da tecnologia de informação, a interoperabilidade é a troca de informações e/ou dados através de computadores. Interoperabilidade é também a capacidade de comunicar, executar programas através de várias unidades funcionais, utilizando-se de linguagens e protocolos comuns.


A Interoperabilidade tem várias faces sendo a interoperabilidade técnica talvez a maior responsável por manter os sistemas de informação interoperáveis, porém outros níveis e conceitos devem ser aprendidos e explorados.


Os Níveis de Interoperabilidade 

 

Interoperabilidade Técnica – É o contínuo desenvolvimento de padrões de comunicação, transporte, armazenamento e representação de informações, através do envolvimento de um conjunto de organizações. É de competência da TI facilitar a convergência de padrões, onde seja possível ter um conjunto de padrões no sistema em benefício da comunidade.

Interoperabilidade Semântica – É o significado ou a semântica das informações de diferentes origens. Pode ser atingida com a aplicação de ferramentas para a representação da informação sendo utilizados para tanto: as ontologias, terminologias (TUSS), sistemas de classificação/codificação (CID/LOINC), padrões (TISS) ou vocabulários controlados como SNOMED-CT.

Interoperabilidade Política/humana – É de enorme importância a forma como as informações são disseminadas e a decisão de torná-las disponíveis é fundamental à organização (para equipes envolvidas e para os usuários). Políticas públicas devem existir para resolver os problemas da exclusão digital, lutar pela democratização do acesso, e pelos programas de educação a distância. A falta de interoperabilidade humana está relacionada à falta de compreensão ou de entendimento entre os homens a respeito de um tema. Um exemplo deste fenômeno é a resistência de alguns dirigentes de universidades ou mesmo da área governamental em adotar as iniciativas do livre acesso ao conhecimento científico. Um outro exemplo, ainda na área governamental, diz respeito ao empreendimento de uma mesma ação na mesma área ou setor.

Interoperabilidade Intercomunitária – Muitas informações são escritas todos os dias e uma grande parte delas não tem compromisso com a verdade. São muitas fontes e não há controle. Nas áreas de pesquisa essa problemática é ainda maior, e é muito importante a criação de fóruns para discussão.

Interoperabilidade Legal – São exigências e implicações legais de tornar livremente disponíveis itens de informação.

Interoperabilidade Internacional – É necessário conduzir bem a língua, atentar as diferenças linguísticas, normas e padrões.

Interoperabilidade Organizacional – Envolve a edição de processo das organizações que tenham objetivos e metas que envolvam a cooperação em grupo.


A interoperabilidade, é então, o intercâmbio coerente e coordenado de informações e serviços entre sistemas, e deve possibilitar a substituição de qualquer componente ou produto usado nos pontos de interligação por outro de especificação similar, sem comprometimento das funcionalidades do sistema.

É objetivo das políticas da informação assegurarem a interoperabilidade segura das informações entre os diferentes sistemas envolvidos.


O que é Integração?

Instituições ou empresas que optam por escolher sistemas diferentes para cada setor, e em algum momento necessitam integrar esses sistemas para otimizar processos ou gerar informações de suporte a decisão, melhorar eficácia de seus serviços e até mesmo reduzir custos operacionais, precisam criar uma retaguarda de integração rápida, confiável e compatível com os sistemas a serem integrados.

Em um cenário altamente competitivo em que se encontram as instituições, empresas e governos nos dias atuais, possuir sistemas de informação para dar suporte ao ambiente de negócios tornou-se uma obrigatoriedade nas mais diversas áreas.

Quando falamos em sistemas de informação para dar suporte ao ambiente de negócios, não se fala apenas em sistemas que controlem o setor financeiro e o estoque das empresas, mas em sistemas que provêm de forma rápida e precisa, informações e estatísticas para dar suporte a decisões de negócios, decisões clínicas e agilidade nos processos.

Num âmbito geral, esse tipo de sistema de informação necessita colher dados de diversos setores da empresa, e esses setores geralmente são geridos por sistemas de informações distintos, tornando os dados dissociados.


Para resolver esta problemática, surge um novo ramo da tecnologia da informação, especializado em integrar sistemas de informação em saúde da melhor forma possível para cada cenário, através de padrões médicos como o HL7.

Este é um dos compromissos que InterOpera se propõe a realizar.


 Integrando Sistemas de Informação

Presencia-se atualmente um aumento significativo do uso de sistemas de informação nas organizações de todos os segmentos. Integrar as informações desses sistemas tornou-se uma tarefa muito importante para que os sistemas possam fazer com eficiência o que se propõem a fazer.

Esse crescente desafio motivou a indústria de tecnologia da informação a desenvolver novos conceitos, técnicas, softwares e até empresas direcionadas exclusivamente à questão da integração entre sistemas de informação.

Um dos motivadores desse fato ocorre devido ao crescente uso de sistemas chamados standalone nos departamentos das empresas, ou seja, sistemas que trabalham sozinhos, independente de outros.

Este acaba por ser um caminho natural, já que apesar de uma organização necessitar de informações em âmbito geral, a maioria dos setores necessitam de processos diferentes para gerar essas informações.

Um caso que podemos usar como exemplo para ilustrar esse cenário, é o de uma empresa que possui uma Central de Laudos de Radiologia que utiliza um sistema PACS (Picture Archiving and Communication System – Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens) não integrado ao RIS (Radiology Information System – Sistema de Radiologia Informatizado).

Integrar é ‘unir’ partes para gerar um todo!

 

Podemos considerar o processo de integração como a união entre duas ou mais ‘peças’, de modo a formar uma única coisa. Estendendo esta definição para o mundo da tecnologia, sem dúvida, a integração refere-se à possibilidade de dois ou mais sistemas ou aplicativos de se comunicarem, compartilhando informações suficientes entre eles para que determinado processo ocorra.

Geralmente, o uso da palavra integração refere-se a capacidade dos sistemas de enviarem informações e processá-las de modo que completem ou complementem um processo ou uma necessidade.

Interoperar  é a capacidade de um produto ou sistema trabalhar com outros produtos ou sistemas existentes, ou futuros produtos e sistemas sem restringir o acesso ou a implementação.

Desta forma, e de acordo com a construção real da palavra, podemos definir a interoperabilidade como a capacidade de dois ou mais sistemas operarem uns com os outros sem restrições ou limitações através da implementação e aplicação de padrões e/ou ontologias.

A interoperabilidade, completa e estende o conceito de integração, incluindo um aspecto de vital importância: a necessidade de sistemas não apenas compartilhar informações, mas trabalhar de forma coordenada, tendo seus papéis definidos e  a compreensão (e não apenas o registro) das informações á partir de outros sistemas.

Bem… vamos integrar ou vamos interoperar?

Dependerá do projeto ou área na qual nos depararmos. Nem todos os projetos são os mesmos e nem todos os desenvolvimentos são iguais. Para o uso de um ou de outro, vamos depender do que estaremos construindo ou o que necessitamos alcançar.

Ao abordar um projeto que requer a comunicação com outras aplicações, é essencial analisar a natureza da troca de informações a ser realizada por todos os sistemas envolvidos. É esse o ponto onde determinamos se será necessário trocar dados ou também uma maior coordenação entre os sistemas.

Podemos falar de integração ao analisar as necessidades de comunicação de um sistema de contabilidade analítica que deve receber e registar todas as informações de um sistema de faturamento de uma clínica. Neste caso, a estrutura e o conteúdo da informação é claramente definida e pouca ou nenhuma coordenação é necessária entre os sistemas, embora o volume de dados a serem enviados seja enorme.

Já quando falamos em  troca de informações entre a estação de trabalho de  um médico em uma clínica médica e um LIS (Sistema de Informação Laboratorial)temos que garantir que a informação compartilhada permaneça com o mesmo contexto e significado para todos os atores envolvidos.

LIS_Laboratories

Foto de JW, CC BY-SA 3.0

Neste último caso, o médico faz as solicitações de testes laboratoriais pertinentes, o programa executa a ordem, é então recolhida as amostras e executado processamento laboratorial.

Os resultados são validados analiticamente e enviados para a estação de trabalho do médico na clínica, permitindo assim a visualização. (fiz um rápido resumo do  fluxo do trabalho). Evidentemente que o grau de coordenação, o aumento e  o intercâmbio de informações é muito mais elevado neste caso.


Conceitualmente seria um erro dizer que vamos integrar o LIS ao sistema da clínica

 

As palavras parecem sinônimas mas não são e não podem ser confundidas!


Identificar corretamente quando fazer uma coisa ou outra é essencial para o sucesso de projetos de comunicação entre sistemas.


Um dos grandes erros que muitas vezes tornam projetos dessa natureza em fracassos, é acreditar que interoperabilidade é apenas o envio de dados de um lado para o outro e que os destinatários serão capazes de compreendê-los .

 

 

Ao pensarmos em troca de informação entre sistemas, precisamos definir uma série de aspectos que determinarão a dimensão do que será comunicado: Desde os papéis de cada um dos atores aos pontos de troca de informações e o conteúdo (o que enviar e receber), a forma como a informação recebida afetará os processos e o que será utilizado e feito com esta.

 

Pensar que interoperar é apenas enviar mensagens de um local para outro, é um erro que leva ao fracasso, não apenas processos mas muitos projetos. E este é um erro muito mais comum do que podemos imaginar.

Atualmente é crença generalizada de que dois sistemas podem trabalhar juntos, unicamente com a troca de informações. Ao crermos nisso, teremos enormes problemas que muitas vezes serão impossíveis de serem resolvidos sem a reconstrução de processos.

Para que projetos de Interoperabilidade ocorram é necessário especialistas que conduzam os processos, identifiquem as necessidades e pontos de troca de mensagens, os padrões a serem adotados, as terminologias, ontologias, vocabulários e principalmente as mensagens a serem trocadas, que podem ser HL7 em uma de suas versões, como HL7v2, HL7v3.


A interoperabilidade ainda é considerada um elemento secundário  na construção e desenvolvimento de sistemas e aplicações em Saúde, assumindo um papel puramente técnico.

Alie-se a falta de entendimento por parte dos recursos humanos e a necessidade de uma profunda análise para realizá-la com sucesso.

Temos a tarefa de transformação desta visão equivocada, ainda mais em um cenário como o da saúde onde o volume diferenciado de sistemas especializados é muito grande e onde a natureza das informações enviadas e seu impacto é crítico.


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Estamos a disposição para consultorias sobre o quê ou como, quando interoperar ou integrar e os benefícios gerados

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Referências:

  1. Governo Eletrônico – Interoperabilidade. Disponível: http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/e-ping-padroes-de-interoperabilidade. Acesso 27 de maio de 2016.
  2. EAI. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/EAI. Acesso 27 de maio de 2016.
  3. RIS. Disponível: https://en.wikipedia.org/wiki/Radiology_information_system.
  4. Governo Eletrônico – SISP. Disponível:  http://www.governoeletronico.gov.br/sisp-conteudo. Acesso 27 de maio de 2016.
  5. Hablando de Saúde. Disponível: https://hablandoesalud.wordpress.com. Acesso 20 de maio de 2016
  6. LIS. Disponível:  https://en.wikipedia.org/wiki/Laboratory_information_management_system.

 

Atualizado em 27 de junho de 2017 – 19:00h